UNICEF e
Campanha Nacional pelo Direito à Educação lançam relatório sobre
as crianças
e os adolescentes fora da escola e em risco de evasão no Brasil
Gazeteiros
nacionais
O Fundo das
Nações Unidas para a Infância (UNICEF) e a Campanha Nacional pelo Direito à
Educação lançaram o relatório Todas as crianças na escola em 2015 – Iniciativa
global pelas crianças fora da escola.
O estudo faz
uma análise do perfil das crianças e adolescentes fora da escola ou em risco de
evasão no Brasil e aponta as principais barreiras que levam a essa situação.
Além disso, apresenta uma análise das principais políticas públicas de
enfrentamento à evasão e ao abandono escolar e faz uma série de recomendações.
A análise do
relatório é baseada em estatísticas nacionais. Segundo a Pnad/2009, cerca de
3,7 milhões de crianças e adolescentes entre 4 e 17 anos de idade estão fora da
escola no Brasil. Desse total, 1,4 milhão tem 4 e 5 anos; 375 mil, 6 a 10 anos;
355 mil, 11 a 14 anos; e mais de 1,5 milhão de adolescentes entre 15 e 17 anos.
O Censo 2010 confirma essa situação.
Um dos
principais fatores de risco para a permanência das crianças na escola é o
fracasso escolar, representado pela repetência e abandono que provocam elevadas
taxas de distorção idade-série. Mais de 3,7 milhões alunos das séries iniciais
do Ensino Fundamental encontram-se com idade superior à recomendada para a
série que frequentam. Em termos absolutos, as regiões com maior número de
alunos em risco de abandono são o Nordeste (1,7 milhão de crianças) e o Sudeste
(pouco mais de 1 milhão). Em termos proporcionais, as regiões com mais
estudantes em risco são o Norte (18,33%) e o Nordeste (17,68%).
Os efeitos
da desigualdade na educação
As maiores
desigualdades se verificam quando se leva em consideração a raça ou a etnia e a
renda familiar das crianças em risco de abandono. Enquanto 30,67% das crianças
brancas (1,6 milhão) têm idade superior à recomendada nos anos finais do Ensino
Fundamental, entre as crianças negras a taxa é de 50,43% (3,5 milhões).
O percentual
de crianças de famílias com renda familiar per capita de até ¼ do salário
mínimo com idade superior à recomendada chega a 62,02%. Já nas famílias com
renda familiarper capita superior a dois salários mínimos, a taxa é de 11,52%.
Dos
adolescentes com idade entre 15 e 17 anos, mais de 1,5 milhão estão fora da escola
(14,8% dessa população). O maior contingente em termos absolutos está no
Nordeste, com 524 mil adolescentes; em seguida, vem a região Sudeste, com 471
mil. Em termos proporcionais, a região com mais adolescentes de 15 a 17 anos
fora da escola é a Sul (17,1%), seguida da Centro-Oeste (16,7%).
Em relação à
Educação Indígena, os índices educacionais têm melhorado nos últimos anos, mas
há ainda barreiras a ser superadas. Uma delas é a ampliação da oferta de Ensino
Médio. As matrículas nessa etapa de ensino não chegam a 6% do total da Educação
Indígena no País.
Educação na Zona Rural
Um dos
maiores desafios para a universalização de toda a Educação Básica é a grande
dificuldade de acesso de professores e alunos às escolas de áreas rurais,
principalmente nas regiões Norte e Nordeste. De acordo com dados do Censo
Escolar 2009, cerca de 65% dos alunos matriculados em escolas rurais no Brasil
não são atendidos por sistemas de transporte escolar público.
Além disso,
muitos currículos estão desvinculados da realidade, das necessidades, dos
valores e dos interesses dos estudantes residentes no campo.
As taxas de
distorção idade-série nas zonas rurais das regiões Norte e Nordeste chegam a
ser duas vezes maiores que as das regiões Sul e Sudeste.
Em razão
desses problemas, a escolaridade da população rural é muito menor que a da
população urbana. De acordo com dados da Pnad 2009, as pessoas que vivem nas
cidades têm, em média, 3,9 anos de estudo a mais que aquelas que vivem nas
zonas rurais.
Barreiras
para o direito de aprender
A pesquisa
demonstrou que o trabalho infantil e o atendimento inadequado ou inexistente às
crianças e aos adolescentes com deficiência são algumas das barreiras que
impedem que todas as crianças e todos os adolescentes estejam na escola e
tenham assegurado o seu direito de permanecer estudando, de progredir nos
estudos e de concluir a Educação Básica na idade certa.
O relatório
também identificou o atraso escolar como um dos principais fatores de risco
para a permanência na escola das crianças em situação de distorção idade-série
decorrente de repetência e abandono. Os alunos com idade superior à recomendada
para a série (dois anos ou mais de atraso) que frequentam os anos finais do
Ensino Fundamental somam mais de 5 milhões, de acordo com Pnad 2009,
representando 41,87% do total de alunos e alunas nesse segmento do Ensino
Fundamental.
Políticas e programas
existentes
No Brasil,
políticas e programas vêm sendo desenvolvidos por diferentes esferas do poder
público para superar as barreiras que ainda impedem o pleno atendimento das
necessidades educacionais das crianças e dos adolescentes. Alguns programas são
voltados para a qualidade do ensino e o financiamento, como os de formação de
professores e o Fundeb. Outros, como o Bolsa Família e o Programa de
Erradicação do Trabalho Infantil (Peti), condicionam o recebimento do benefício
à frequência à escola.
Recomendações do Relatório
Uma das
principais constatações do relatório é a importância da intersetorialidade das
políticas públicas para assegurar a universalização e a indivisibilidade dos
direitos da criança. Por exemplo, somente políticas intersetoriais poderão
garantir a inclusão, a permanência e a aprendizagem de crianças e adolescentes
com deficiência, dos meninos e meninas egressos ou em risco de trabalho
infantil, ou das crianças e adolescentes abrigadas e em medidas
socioeducativas.
Além disso,
é preciso eliminar da cultura escolar a naturalização da repetência, da evasão,
da não alfabetização na idade certa e da não aprendizagem. Para isso, um bom
caminho consiste em programar processos de atenção individualizada e de
avaliação contínua.
A
valorização do profissional de educação - que envolve remuneração adequada,
plano de carreira e capacitação constante - é condição indispensável para a
garantia da qualidade da educação.
Iniciativa
Global pelas
Crianças Fora da Escola
O relatório
integra a Iniciativa Global Out of School Children (Pelas Crianças Fora da
Escola), do UNICEF e Instituto de Estatística da UNESCO (UIS). A iniciativa
analisa a exclusão e os riscos de abandono escolar em 25 países. Na América
Latina e Caribe, participam Brasil, Colômbia e Bolívia. No Brasil, vem sendo
desenvolvida em parceria com a Campanha Nacional pelo Direito à Educação, rede
da sociedade civil que atua pela efetivação do direito constitucional à
educação no País.
Hoje também
está sendo lançado um relatório regional com a análise da situação nos países
da América Latina e do Caribe.
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