ENTREVISTA:
Com o Promotor de Justiça João Guimarães
O
Promotor de Justiça João Ribeiro Guimarães Netto é o atual titular da Comarca
de Anamã. Ele começou a carreira na área de segurança pública, na Polícia
Militar do Amazonas, e atualmente se orgulha da função de membro do Ministério
Público Estadual. Conheça um pouco da trajetória dele através da entrevista
abaixo.
Como
surgiu a vontade de ingressar na área jurídica?
Iniciei
minha carreira na área da segurança pública, pois em janeiro de 1986 ingressei
nas fileiras da briosa Polícia Militar do Estado do Amazonas, na graduação
especial de cadete, onde participei durante três anos do curso de formação de
oficiais na Academia de Polícia Militar da Bahia, tendo o primeiro contato com
várias disciplinas da área jurídica. Fui declarado aspirante à oficial da PM em
dezembro de 1988, onde obtive a primeira classificação nacional do curso, fato
este que me rendeu uma imediata promoção ao posto de Segundo Tenente da PM,
além de duas condecorações outorgadas pelo Governo da Bahia e pelo Governo do
Amazonas. Chegando na Polícia Militar do Amazonas, exerci várias funções como,
por exemplo, Companhia de Polícia Rodoviária, Assistência Militar do Comandante
Geral da PMAM, Assistência Militar da Presidência do TRE/AM e Assessoria da
Casa Militar do Governo do Estado do Amazonas, dentre outras. Durante os quase
16 (dezesseis) anos que passei na corporação, tive a oportunidade de cursar uma
Pós-Graduação Lato Sensu em trânsito, na Universidade Federal de Uberlândia,
onde estudei várias disciplinas ligadas diretamente à área jurídica. Durante
este tempo, meu irmão ingressou no Ministério Público do Estado, fazendo com
que eu passasse a conhecer bem proximamente a atuação de um promotor de justiça
no interior do Amazonas. Em razão de todos esses fatores, foi despertado em mim
um sentimento de cursar uma faculdade de Direito, com o objetivo único de
concorrer a uma vaga no Ministério Público. Fui aprovado no vestibular da
Universidade Federal do Amazonas, passando a estudar com grande entusiasmo.
Após a formatura, aguardei o primeiro concurso público e, como tinha a intenção
de iniciar logo na área jurídica, fiz o concurso para advogado na Caixa
Econômica Federal, sendo classificado, e passando a aguardar a chamada, que
somente veio após ter assumido o cargo de promotor de justiça. Fiz também o
exame da OAB/AM, obtendo a aprovação, entretanto, não exerci a advocacia em
razão de ter obtido classificação para o cargo de delegado de Polícia Civil,
onde assumi as funções em dezembro de 2001, na Central de Flagrantes, momento
em que também concorria a uma vaga no MP-AM. Mas foi somente no dia 22 de maio
de 2002 que assumi com muito orgulho a mais gratificante missão da minha vida,
ser promotor de justiça do Ministério Público do Estado do Amazonas. Em 2012,
completei, 10 anos de Minitério Público.
Quais
foram às comarcas em que atuou?
Com
titularidade, apenas em Maraã, Alvarães e Anamã, onde tenho atual titularidade.
Mas respondi em várias outras, como Manicoré, Tefé, Anori, São Paulo de
Olivença, Juruá, Uarini, Novo Aripuanã, Coari, Codajás, Presidente Figueiredo,
Benjamin Constant, dentre outras promotorias na cidade de Manaus.
Quais
casos mais comuns que passam pela sua Promotoria?
Casos
envolvendo pensão alimentícia, investigação de paternidade, conflitos de
família (separação, divórcio, partilha de bens), crimes de menor potencial ofensivo
e posse de terra.
O
município de Anamã está passando por um momento de calamidade pública com a
enchente dos rios. Como se dá a atuação do promotor de justiça nessa situação?
Anamã
é uma cidade de característica ímpar, pois neste momento de enchente recorde,
as vias públicas se transformam em verdadeiros caminhos fluviais, onde o
trânsito de veículos e pedestres é substituído pelas canoas,
"voadeiras" e rabetas. Seria muito fácil oficiar ao Procurador-Geral
de Justiça e dizer que o promotor de justiça não tinha mais condições de
trabalhar nesta situação, todavia, resolvi enfrentar o problema de frente,
afinal de contas, penso que o membro do parquet tem
que mostrar para a população que o Ministério Público continuará a desenvolver
seu papel mesmo diante das situações mais adversas. Durante o atendimento ao
público, percebíamos várias motocicletas e bicicletas do lado de fora do fórum
e, agora, o que presenciamos são várias canoas e rabetas, trazendo pessoas da
sede da Comarca e das diversas comunidades da zona rural de Anamã. Tudo isso
somente aumenta a vontade de servir à população anamaense, sendo esta, uma
experiência que poucos passarão.
Fale
um pouco sobre o programa de rádio desenvolvido e apresentado pelo senhor, o
"Fala Promotor".
Bem,
o "Fala Promotor" é um programa que apresento na cidade de Anamã, e
que é transmitido pela Rádio Anamã FM, frequência 87,9, onde semanalmente
abordo vários tipos de problemas direta ou indiretamente relacionados à área
jurídica. A ideia surgiu de forma descontraída em uma manhã de sábado, quando
eu ouvia os programas da Rádio Anamã FM e minha esposa indagou sobre a
possibilidade de apresentar um programa com temas relacionados à área jurídica,
onde eu abordaria um tema e em seguida responderia às dúvidas da população sobre
diversos assuntos. Eu disse a ela que iria pensar nesta hipótese. Entretanto,
conversando com algumas pessoas ligadas à área jurídica, a ideia surtiu efeito
e, pouco tempo depois, fui convidado pela direção da Rádio para apresentar o
programa. Durante todo este tempo que o programa está no ar, abordei diversos
temas, como alimentos, investigação de paternidade, união estável, tráfico
ilícito de substância entorpecente, juizados especiais cíveis e criminais,
violência doméstica e lei maria da penha, dentre outros. O tema da semana é
anunciado com antecedência e durante a programação os ouvintes enviam torpedos
para o celular da Rádio, bem como ligam e falam diretamente no ar, onde são
atendidos por mim, o Promotor de Justiça.
Qual
o alcance do programa de rádio e o seu efeito na população anamaense?
A
Rádio Anamã atinge toda a sede do município e várias comunidades da zona rural,
como Cuia Grande, Cuinha, Ilha do Camaleão, Costa do Gabriel, Ajaratuba, São
Paulo, dentre outras. Embora a apresentação do programa exija um pouco mais de
empenho pessoal, sinto uma grande satisfação em estar contribuindo para ajudar
a população do município, principalmente aqueles mais carentes, que muitas
vezes não têm condições de se deslocarem até a sede da comarca. Na semana
passada, quando eu trafegava em uma "voadeira" nas ruas alagadas da
cidade, encontrei um ouvinte que acenou para mim e perguntou se no outro dia o
programa iria para o ar normalmente. Eu lhe respondi que sim, momento em que
ele me falou que iria estar atento, ouvindo o programa. Quando encontro pessoas
nas ruas da cidade que agradecem a ajuda do programa e dizem que são meus
ouvintes costumeiros, tenho a impressão que o objetivo do programa está sendo
alcançado e, consequentemente, o dever cumprido.
Em
sua opinião, qual a contribuição do Ministério Público Estadual para a
população do Amazonas?
Grandiosa.
O Ministério Público é uma instituição de extrema credibilidade diante da
sociedade brasileira e, principalmente, da sociedade amazonense. É um dos últimos
alicerces de credibilidade da população. Em todos os segmentos sociais, sempre
que algo está errado, as pessoas logo falam em tom ameaçador: "vou
denunciar no Ministério Público". Ou seja, a instituição Ministério
Público do Estado do Amazonas goza de prestígio no seio da sociedade
amazonense, e a população sabe que através do MP-AM inúmeros problemas que
afetam diretamente o cidadão amazonense serão resolvidos.
Que
análise o senhor faz sobre a sua atuação no Ministério Público?
Penso
que tenho me empenhado para atuar de forma firme e enérgica, entretanto, com
amor e atenção para com o povo do nosso estado. Ser enérgico e firme em suas
convicções não quer dizer que o promotor de justiça tem que tratar as pessoas
com grosseria ou arrogância, mas que aja de forma responsável, cumprindo seus
deveres de membro do parquet, de forma a sempre elevar o nome da
instituição Ministério Público do Estado do Amazonas. Temos que observar sempre
que a população está esperando muito do promotor de justiça, e para isso, tenho
me esforçado para atender os anseios da população do nosso tão sofrido interior
do Amazonas.
Na
sua visão existem aspectos que o MP precisa melhorar?
Sim.
O interior de nosso Estado é uma situação particular em relação a qualquer
cidade do Brasil. Sabemos e somos conhecedores que o Ministério Público já
melhorou muito nos últimos anos, fatos que podem ser confirmados em conversas
informais com qualquer procurador de justiça ou promotor mais antigo na
carreira. Entretanto, sabemos também que a tendência do mundo moderno é sempre
evoluir e, o MP-AM, não diferentemente das demais instituições públicas, ainda
tem um caminho muito grande a percorrer para melhorar a produtividade laboral,
devendo dotar as promotorias de justiça (principalmente as do interior em razão
do isolamento em que se encontram) com um mínimo de condição para que o membro
desenvolva sua atividade ministerial a contento. Um exemplo disso é a
construção de sedes e residências para o membro do MP na comarca, bem como, a
facilitação ao acesso à internet e até mesmo o transporte para deslocamento do
membro às comunidades da zona rural, a fim de atender à população carente, e
quando falo em transporte, traduzo de imediato, que o transporte em nossa
região seria as chamadas "voadeiras".
"A
carreira ministerial é um verdadeiro sacerdócio. Entretanto, nada na área
jurídica é mais gratificante que ser Promotor de Justiça. O amor pela atividade
do Ministério Público tem que vir acima de tudo e, como grata recompensa,
teremos a satisfação de um dever cumprido. Nunca se desestimulem quando ouvirem
alguém dizer 'isso não vai dar em nada'. Lembrem-se que as grandes conquistas
começaram com algo que parecia inatingível. Tentem se estimular diariamente
como se fosse aquele primeiro dia de trabalho no Ministério Público, onde
chegamos cheios de sonhos e idealizações". João Guimarães.
2 comentários:
Quero parabenizar a equipe e a direção do Jornal EXTRA em especial aos amigos jornalista Haroldo Furtado e Dinho.Pelo excelente conteúdo jornalístico.
Abraço fraterno
Edson Chaves
(Correspondente do EXTRA no Baixo Solimões).
Quero parabenizar a equipe e a direção do Jornal EXTRA em especial aos amigos jornalista Haroldo Furtado e Dinho.Pelo excelente conteúdo jornalístico.
Abraço fraterno
Edson Chaves
(Correspondente do EXTRA no Baixo Solimões).
Postar um comentário